domingo, 27 de novembro de 2011

Além da pele, habito.



Na noite de sexta fui assistir A pele que habito, o novo filme do Almodóvar, e estou até agora confusa sobre o que achei a respeito. Posso dizer de cara que vi um novo lado do diretor, um lado mais sóbrio e cientifico. Sem dúvidas um filme mais amadurecido do meu querido espanhol, o que me deixa confusa. Bem confusa.

Tudo bem, compreendo que o amadurecimento é natural e com isso as mudanças são inevitáveis e assumo que o diretor continua fiel a sua essência e coerente com toda a sua filmografia o que não me deixa dizer que não gostei do filme mas, pela primeira vez não sai do cinema pensando "Que demais !" dessa vez pensei "Que filme estranho!". E ai, palmas para Pedro Almodóvar que provavelmente não gostaria se eu pensasse "Que demais!" sobre esse filme.

Estou a mais de um dia refletindo sobre cenas e relembrando fotogramas que mais parecem pinturas e só uma coisa me vem à cabeça, que filme estranho e sóbrio. Que filme estranhamente sóbrio! O mais estranho é que Almodóvar colocou toda sua estética lá, todos os seus clichês que eu tanto gosto.  A Espanha, as cores e músicas, o mundo feminino apresentado com tamanha excelência, a mistura de gêneros, talvez até um gênero novo. Estava tudo lá, explodindo em uma mistura que Pedro fez, mais uma vez, sem medo mas, estava tudo sóbrio demais. Seu vermelho apresentado em tons mais fechados, branco por tudo quanto é lado e muita cor de PELE. Um minimalismo impróprio.

Sei que fiquei completamente em choque pelo que assisti na noite passada. Uma versão espanhola de Frankenstein no século XXI. Pois é, parece não combinar muito mas, deu certo. Estranhamente certo. Toda aquela história maluca de um cirurgião cientista que faz experimentos com a pele humana dentro de sua própria casa, (uma grande mansão quase inabitada se não fosse por ele, sua funcionaria e seu objeto de estudo.) me fez pensar o dia inteiro e pensar o dia inteiro, parece ser o objetivo máximo do diretor.


Almodóvar, a cada filme, nos instiga a refletir sobre os valores do mundo atual. Se pensarmos bem, a partir dessa trama que envolve vingança, amor, loucura, roubo, ciência, inovações, mortes e estupros, ele nos orienta a uma tarefa, a de olhar para dentro de nós mesmos e refletirmos sobre quem somos além da nossa pele. Além do que se pode mostrar fisicamente criando julgamentos para situações amorais, bem amorais, apresentadas longe dos maniqueísmos e juízos da sociedade em A pele que habito.

domingo, 13 de novembro de 2011

Poesia pra domingo...


Pessoas que não existem habitam casas que não existem - mas fingem existir.

Memórias impressas em objetos que não tem nenhuma. Se lembram da China, talvez. A mancha de café derramado de propósito, o mofo em um teto onde nunca choveu criam elos estranhos entre as partes da casa e seus moradores. Minha novela Frankenstein.

Uma praça, o coreto e paredes ocas
vazias.
Existem?
Cidades de curta duração
efêmeras.
Bonitas.
As vezes novas, nascem como velhas
e duram o tempo de contar uma história.



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

E com vocês, Hélio Leites!

   Sabe Shakespeare? Então, esquece toda essa história de palco elisabetano mas, mantenha o drama e tente imaginar Romeu e Julieta encenado em uma caixa de fósforos. Conseguiu? Não? Então você precisa conhecer Hélio Leites! Ele é um artista plástico e performer que recria espetáculos shakespearianos em pequenos metros quadrados com personagens feitos com qualquer material de pequena escala que vá parar em suas mãos, onde ganham vida e a atenção de quem passa.

   Dá uma olhadinha nesse vídeo onde o artista em questão responde à pergunta 'O que é tristeza pra você?' feita por André Saito e Cesar Nery (diretores, fotógrafos e editores). 





    Apaixonante, né? Pois é, foi assim quando conheci Hélio e sua criatividade, amor à primeira vista. Aquela versão de Romeu e Julieta à la Hélio Leites tinha apenas  0,14m X 0,35m e toda a cara de Rapunzel. A obra estava exposta na mostra nacional do Brasil na quadrienal de Praga deste ano, e ao lado tinha o vídeo que faz parte do projeto Thomás tristonho dirigido por André Saito & Cesar Nery . As palavras do poeta e seu estilo único simplesmente me encantaram. 

Romeu e Julieta de Hélio Leites na PQ11


   Como grande curiosa que sou não pude deixar de pesquisar mais sobre o artista assim que pisei em terras brasileñas. Aí,  descobri que o talento dele vai muito além de Shakespeare. Suas caixinhas de fósforos, botões, rolhas, palitos de picolé, etc., já contaram até a historia do descobrimento do Brasil. A verdade é que Hélio é um grande contador de histórias e o melhor, após os espetáculos seus palcos viram verdadeiras esculturas! Tão verdade que muitas de suas obras ganharam uma galeria ambulante que cabe em uma mala e viaja o mundo com o artesão. 

   Esse ano, Leites ainda publicou um livro chamado "Mínimos" que é uma reunião de obras do artista. 

   Vale a pena fazer uma busca no youtube por vídeos do Hélio Leites. Tem vários muito legais !

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Sorriso de Serapião - Figurinos


  O trabalho a seguir, foi apresentado à Professora Mestra Rosane Muniz para a disciplina de Pós-graduação “Figurinos pra a Tv e Publicidade” no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Este é o primeiro de uma série de trabalhos que produzimos em conjunto e iremos divulgar aqui no “PIVO!”.

A Proposta


  Cada grupo deveria escolher um conto, uma história ou algum roteiro já existente (neste caso adaptando a história), para ser exibida na tv, podendo ser uma novela, seriado, minissérie, etc. E esta história deveria obrigatoriamente se passar em algum estado brasileiro. Cada integrante do grupo ficaria responsável por desenvolver figurinos para um personagem, desenvolvendo mais de um figurino para criar seu universo visual.

  Decidimos então que o nosso grupo faria uma minissérie televisiva construída a partir do conto “O Sorriso de Serapião” de Antonio Calloni. O Conto faz parte do livro “O Sorriso de Serapião e outras Gargalhadas”.

EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA
Rua Argentina, 171 – 1º Andar – São Cristóvão – Rio de Janeiro, Rj
2005
O Sorriso de Serapião – Sinopse

  “'O sorriso de Serapião (e outras gargalhadas)' reúne onze pequenas narrativas nas quais o autor define o seu estilo de escrita e exibe sua habilidade para criar uma série de personagens memoráveis. Na história que dá nome ao livro, Serapião, 'cabeça chata e um sorriso furado pela ausência de dois dentes superiores', vive em uma eterna busca por sua amada Amaralina entre as paredes e os andaimes de uma selva de pedras. Perambulando em meio a lembranças de uma infância miserável e projeções incertas de um futuro, Serapião e seu inseparável 'sorriso em preto e branco, janela para algum lugar vazio e feliz', não encontram meios de fugir de uma patética realidade.”


Processo Criativo

  “O sentido do grotesco é falar/positivar os aspectos naturais da vida, as excreções, a sexualidade, o riso” (Bakhtin)

  O texto é baseado nas relações irreais que Serapião estabelece com o mundo. Sua imaginação, juntamente com a crença nas histórias contadas por sua mãe e nos ensinamentos religiosos de seu pai, o levaram a ver o mundo sempre de uma forma distorcida, criando sua própria realidade e seus próprios ideais de beleza.

  Marília Librandi Rocha, que escreve a introdução do livro, define o teor da obra como “grotesco familiar”, característica que interpretamos como a dualidade entre realidade/sonho, atrelada ao conceito de hiper-realismo que possibilita o real e o fantástico coexistindo.

  Baseado nesses conceitos principais, optamos por buscar referências visuais em movimentos artísticos capazes de oferecer um universo assim, fantástico e real. Encontramos na obra de Henri Rousseau, características que buscávamos representar em “O Sorriso de Serapião”: formas exageradas; a figura humana que se insere na natureza, mas ao mesmo tempo lhe parece estranha; cores e luzes que intensificam essa diferença; o feio e o belo; o grotesco que reside nas relações entre homem e natureza e também nas proporções que fogem dos padrões.

Obras de Henri Rousseau

  Após a definição desse universo imagético geral da minissérie, partimos para a construção da fantasia de Serapião, propriamente dita. A partir de uma idéia do próprio autor, que descreve a primeira visão que Serapião tem de Amaralina como “uma pintura Naif”, começamos a desenvolver o que seriam essas visões. Concluímos que Serapião, em seu universo particular e distorcido, veria o mundo de uma forma muito mais ingênua e romantizada, tal qual o autor sugere: o mundo como uma pintura Naif – o feio perde sua característica grotesca, que passa a representar o mundo real, e se eleva ao status de “simplicidade” trazendo alívio, cor e um sentimento de familiarização com as origens nordestinas das personagens.

Acima: Airon das Neves - Soltando balão
Abaixo esq.: Teles - Tarte Alegre  Abaixo direita: Ernane Cortat - O Violeiro

  A proposta é que sejam feitos recortes, por assim dizer, de animação no estilo Naif, para os momentos em que seja imprescindível que o público compreenda a forma totalmente divergente da realidade que Serapião enxerga os fatos.

Os Croquis

  Cada integrante do grupo ficou responsável por desenvolver o universo visual de um personagem e, após decidirmos quem faria qual (achando dificil pois sempre criamos juntas) pesquisamos separadamente referências imagéticas.

Personagem: Serapião
“Serapião não era nada, mas era feliz.
Trinta anos. Virgem.”

por Larissa Carvalheira


Personagem: Maria (Mãe)
“’Onde é que está a água do meu filho, desgraçado?’ Pensava isso, olhando pro céu, e não chorava pra não enfraquecer. Maria. Gostava das superstições, das estórias, das lendas.”

por Emilia Simon


Personagem: José (Pai)
“Eu rezo, mas não chove, meu filho, é obrigação rezar mais.”

por Gabriela Corrales

Personagem: Amaralina
“Uma criança alada, voando sobre suas cabeças. A criança do vento”
“Uma mulher que não era nada, mas era mulher. Trinta anos. Virgem.”
"- Amaralina?
- Pode ser, meu gato."

por Renata Freitas

Personagem: Toinho – O único desafeto de Serapião
“Toinho era homem vindo de algum norte, com cara e cor de índio. Um e oitenta de altura, e forte como uma besta mítica.”


por Mayara Alencar



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Películas argentinas

  No ultimo mês os dois filmes que mais me chamaram a atenção no cinema foram filmes dos nossos vizinhos argentinos. Un Conto Chino E Medianeras.


     Un conto Chino, conta a historia de Roberto um veterano de guerra que tem um ar de durão mas um ótimo coração e  leva uma vidinha bem sem graça e regrada, uma rotina que aparentemente nunca vai mudar. Até que aparece em sua vida Jun, um chinês que está perdido em Buenos Aires em busca de seu tio. Ah, vale ressaltar que Jun não fala espanhol e nem Roberto fala chinês. E porque eles se encontraram?! Porque uma vaca caiu do céu!

  A direção de arte assinada por Valeria Ambrosio é fortíssima. Cenário e figurino são muito harmônicos e  o universo visual desse homem que vive do passado não poderia ser apresentado com maior maestria. É interessante também observar as pequenas mudanças (grandes para Roberto) que acontecem quando Jun entra nesse mundo solitário.




  Medianeras - Buenos Aires na era do amor virtual é mais uma historia comum, como a maioria dos filmes da terra de Maradona. Algo que poderia, e provavelmente está, acontecendo em alguma esquina argentina mas que contadas da melhor forma se tornam grandes obras cinematográficas.

  E foi da melhor maneira que Gustavo Taretto, diretor do filme, nos apresentou a história de Martin e Marina, dois jovens solitários que vivem muito perto um do outro, tem os mesmos hábitos e nunca se encontraram, cada um vive no seu mundinho sem  grandes acontecimentos que mudem a rotina diária.

  A direção de arte também ajuda a contar a historia. A cidade é um terceiro personagem (ou talvez o grande protagonista) e os apartamentos de Marina e Martin mostram com muita clareza a confusão da vida de cada um. Todo o universo deles cabe naqueles pequenos espaços os dois muito detalhados com objetos íntimos e de grande valia para ditar a personalidade de cada um. Frente à esses universos carregados de sentimentos profundos temos a impressão de que Martin e Marina são praticamente engolidos pela cidade e mais, compartilhamos com os dois a angustia de querer ocupar mais espaços, se libertar ao mundo e se integrar mais à grande capital ao invés de se enclausurarem. Os figurinos ditam o humor dos personagem e sem ele não teríamos um final feliz pra essa historia! Uma direção de arte poética. Alias, todo o filme respira poesia. Poesia imagética, poesia sonora, poesia literal.

  Pode parecer estranho dois filmes argentinos em cartaz no mesmo mês mas não podemos esquecer que O Segredo dos Seus Olhos (El secreto de sus ojos), do diretor Juan José Campanella recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010, e  venceu o Prêmio Goya de melhor filme do ano colocando nossos hermanitos em evidencia no mundo. A grande verdade é que o cinema argentino vem ressurgindo das cinzas nessa última década. Mesmo em plena crise econômica o filme O filho da noiva (El hino de la noiva) também do diretor Juan José Campanella, foi lançado em 2001 sendo uma grande surpresa aos amantes da sétima arte ! Não sou muito de julgar filmes por gêneros mas digo que dei algumas risadinhas e também deixei escorrer algumas lágrimas nesse filme que reflete com muita clareza e intensidade a crise econômica do pais através de seus personagens complexos e cheios de probleminhas cotidianos (falta de dinheiro, divórcio, etc.). Aliás é exatamente isso que me fascina no cinema argentino as tramas são muito realistas e fortes ao mesmo tempo trata-se com muita sutileza das emoções humanas. O que pareceria um filme monótono revela-se dinâmico e completamente envolvente!
Outra produção argentina os que muito me cativa é Elsa & Fred (2005) do diretor Marcos Carnevale. Um filme completamente encantador que conta a historia de amor entre dois velhinhos. Elsa, que tem o sonho de ir na Fontana de Trevi onde Anita Ekberg e Marcello Mastroianni protagonizaram a famosa cena de A Doce Vida (La Dolce Vita), de Federico Fellini. E se Elsa seria Anita, Fred é o seu Mastroianni! A película é simplesmente uma celebração a vida e uma cômica e bela homenagem a Fellini. 
Já que comentei sobre La doce vita e como gostamos de falar sobre cenografia e figurino, trago uma curiosidade: Vocês sabiam que La dolce Vita ganhou o Oscar de melhor figurino em 1962 além de ter um prêmio do Sindacato Nazionale Giornalisti Cinematografici Italiani por melhor cenografia?